Domingo, 27 de Abril de 2008
Filmes com jazz dentro
Os felizardos-amadores-de-jazz que acaso visitem Nova Iorque nos próximos meses
– concretamente até 15 de Setembro –, para além do muito jazz que ali terão para ver e ouvir (e pagar!) nos muitos clubes da Grande Maçã, poderão ainda visitar o Museu de Arte Moderna (MoMA) já que, entre tantas outras, está ali patente (desde 17 deste mês) uma prometedora exposição relacionada com o cinema e com o jazz. Melhor: com o jazz dentro dos filmes.
Intitulada, muito simplesmente, Jazz Score, ela apresenta um (diz-se) impressionante acervo de cartazes, video clips e outros objectos de arte e gadgets com estreita ligação ao cinema com jazz e, naturalmente, a projecção de uma seleccionada escolha de filmes com banda sonora de jazz.
De entre estes saliento, em jeito de amostragem e sem preocupações de exaustão, títulos como ‘Mo Better Blues (Spike Lee, 1999) ou o seu documentário When the Levees Broke (2006) sobre o furacão Katrina; In Cold Blood (Richard Brooks / Truman Capote, 1967); o famoso documentário Jazz on a Summer’s Day (Aram Avakian / Bert Stern, 1960); uma outra célebre dupla de filmes de Shirley Clark, como The Cool World (1954) ou The Connection (1962); ou ainda, para não me alongar, Paris Blues (Martin Ritt, 1961), Mickey One (Arthur Penn, 1965) e The Servant (Joseph Losey, 1963).
Foi a propósito desta tentadora exposição-projecção-celebração que me lembrei de vos recordar hoje alguns excertos de filmes famosos (todos eles também celebrados no MoMA) e bem reveladores da excelência das relações entre o jazz e os filmes, embora estas não fossem tão aproveitadas na história do cinema quanto o poderiam ter sido.
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Ascensor para o Cadafalso
(Louis Malle, 1958) – compositor: Miles Davis
ou um objecto artístico emblemático…
O Homem do Braço Dourado
(Otto Preminger, 1955) – compositor: Duke Ellington Elmer Bernstein (1)
ou a célebre «ressaca» de Sinatra…
Anatomia de um Crime
(Otto Preminger, 1959) – compositor: Duke Ellington
ou a novidade do genérico de Saul Bass… em mais um Preminger / Ellington...
A Faca na Água
(Roman Polansky, 1962) – compositor: Krzysztof Komeda
A Sede do Mal
(Orson Welles, 1958) – compositor: Henry Mancini
ou o mais espantoso plano-sequência da história do cinema…
1) Em tempo: quando se trata de nos pormos a falar (às vezes pelos cotovelos) pode acontecer que nos aconteça cometermos alguns lapsus linguæ. Mas, quando escrevemos, a coisa muda de figura e esses lapsos tornam-se... lapsus calami. Foi o que aconteceu com a referência ao compositor da banda sonora para O Homem do Braço Dourado, quando escrevi Duke Ellington em vez de Elmer Bernstein, talvez antecipando-me à referência do compositor para Anatomia de Um Crime, cujo vídeoclip se segue, do mesmo Preminger. Não será nenhuma... calamidade... mas, já agora, aproveito para vos dizer também de passagem que, na banda sonora, se ouve, entre outros, um super-grupo: Shorty Rogers & His Giants. As minha desculpas!
Sábado, 26 de Abril de 2008
Discos em destaque (alguns com atraso...)
Sexta-feira, 25 de Abril de 2008
Sempre!
Sábado, 19 de Abril de 2008
Bolsa para o arquivo de Herman Leonard

Segundo foi recentemente noticiado, a Grammy Foundation concedeu uma bolsa para os trabalhos de catalogação e preservação do Jazz Archive
de Herman Leonard.
Como os amadores de jazz há muito sabem, Leonard foi um dos maiores fotógrafos de sempre a dedicar a sua arte e talento à captação de imagens dos grandes músicos de jazz. E o seu qualificadíssimo arquivo comporta hoje cerca de 65 000 negativos, representando assim uma das mais completas documentações fotográficas do jazz norte-americano, com particular significado no que se refere aos anos de 1940 a 1960.
Extremamente activo no acompanhamento dos músicos afro-americanos, sobretudo a partir dos anos do bebop, Herman Leonard seguiu-os desde Nova Orleães até Nova Iorque, passando por Paris e outras metrópoles europeias, fosse onde fosse que eles actuassem.
Em 1990, Leonard mudou-se em definitivo para Nova Orleães, cidade onde em 2005 o furacão Katrina, em meio de todo o rasto de destruição e tragédia que lançou sobre a região, também ameaçou e destruiu parcialmente um arquivo de cerca de 8 000 negativos do grande fotógrafo que, juntamente com os seus amigos, conseguiu salvar parte significativa de uma perda irreparável ao colocá-los à guarida do Ogden Museum of Southern Art.
Tansportando mais tarde este precioso acervo para Los Angeles, cidade para onde se transferiu, o octagenário Herman Leonard (85 anos de idade!), em conjunto com uma vasta equipa, está a proceder ao restauro e reimpressão de parte substancial da sua obra, sendo digitalmente recuperados os negativos de conservação mais problemática.
É para a preservação desse inestimável arquivo -- de que aqui publico, com a devida vénia, fotos de Dexter Gordon, Charlie Parker e Sonny Stitt -- que a Fundação Grammy agora atribuiu esta importante bolsa de 33 017 dólares.
Bem haja por isso!
Recursos na Net:
Quinta-feira, 17 de Abril de 2008
Achados no baú (7)
As melhores experiências da fruição ao vivo do jazz são aquelas que contrariam, no melhor sentido, expectativas antecipadamente criadas, quer por se tratar de um grupo há muito conhecido quer por seguir de perto um dado repertório recentemente gravado e que, como passou a ser hábito, é a razão de ser de um concerto.
Foi de um exemplo destes que me lembrei, ao procurar no meu baú alguma coisa que vos pudesse dar uma ideia deste tipo de felizes ocorrências. E encontrei-o nesta crónica que, publicada numa época em que com mais regularidade se tratava de jazz no Diário de Notícias (bons tempos!), então tive o gosto de escrever para a edição de 30.11.98.
Como quem não quer a coisa... já lá vão 10 anos!
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Com um sorriso nos lábios
Confesso a minha embirração incurável quando me preparo para assistir a um concerto de jazz que, à partida, já tem menu escolhido – sobretudo se, ainda por cima, ele é anunciado como vindo antecipadamente sujeito a mote.

O certo é que aquilo que se anunciava como sendo um concerto incluído na
tournée de promoção do último álbum de
Herbie Hancock dedicado a
Gershwin [Nota:
Gershwin's World, 1998], iria resultar em algo bem diverso: um único
set sem intervalo que, até mesmo talvez à revelia das cábulas que o pianista trazia consigo, se foi organizando em progresso, quem sabe se em função da boa disposição que uma excelente refeição traz sempre consigo...
Foi assim, com um sorriso nos lábios, que Hancock se sentou ao piano, para um concerto que se afastou por completo do que estava previsto. E, no entanto, as coisas não começaram por correr da melhor maneira. O turbilhão de fundo que afligiu logo de início a captação sonora do primeiro tema do concerto – New York Minute – fazia recear o pior. Talvez porque geralmente associado ao circuito dos grandes grupos de rock (!), o próprio aparato tecnológico que ladeava o quarteto de Hancock não deixava em si mesmo de ser agressivo, pela sua presença estentórica e supérflua.
E iria revelar-se totalmente desprovida de utilidade a dose cavalar de decibéis debitados por um PA tonitruante que, se colocado a meio-gás, melhor teria servido uma música essencialmente acústica que se mostrava aos primeiros instantes primar pela subtileza e muito ganharia em ter-nos sido devolvida com a maior das transparências.
Ultrapassados os receios iniciais, o concerto deslizaria, de tema em tema, num crescendo de agradáveis surpresas, tanto maiores quanto o repertório escolhido se apresentava como que submetido à lógica rentável dos clássicos e dos standards. E, aqui, não pude escapar a um segundo murro no estômago em que a presente temporada parece começar a mostrar-se fértil.
É que, à semelhança do que acontecera já com Antonio Hart no Festival de Jazz do Porto [09.11.98], Herbie Hancock como que se ultrapassou ainda mais na sua já consabida arte de subverter, de forma ímpar, um material temático que surge ao ouvinte desprevenido como sendo «favas contadas» – mais uma vez desmentindo com fragor a ideia feita de que o cancioneiro norte-americano há muito já deu o que tinha para dar.
É verdade que, em segundo lugar, o pianista nos anunciou o conhecidíssimo
I Love You de Cole Porter. Mas, logo na exposição do tema, o espanto não deixaria de crescer à medida que os acordes da harmonia se encadeavam: uma harmonia que, de forma deliberada, de frase em frase, ia passando por três, quatro, cinco tonalidades diferentes!
E que dizer dos solos? Como conseguir encontrar pontos de segurança e apoio (para aquilo que é conhecido quase de cor) nas constantes modulações seguidas em estonteante encadeado por todos os músicos, quase que no mesmo instante em que eram sugeridas por um deles?
O mesmo se passaria logo a seguir, depois de uma longa divagação num afro 12/8, quando o quarteto passaria à exposição de Just One of Those Things (também de Cole Porter!). Como não nos extasiarmos perante o permanente politonalismo assumido de princípio a fim por Hancock e seus companheiros?
Na realidade, os espectadores presentes na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, estavam a assistir à consumação de um flagrante delito, nos últimos tempos relativamente invulgar.
Ao contrário da burocrática mastigação dos standards que, com maior ou menor talento, nos é impingida por dezenas e dezenas de músicos ainda há pouco saídos da desmama e já lançados para as cadeias de produção em série dos estúdios de gravação, Herbie Hancock recordava-nos o que há muito sabe: como é possível ao músico inserir-se numa dada estrutura temática para, ao mesmo tempo, de forma imperial e genial, a destruir por dentro, fazendo tábua rasa de todo e qualquer «efeito de reconhecimento»!
A própria integração neste quarteto do saxofonista Craig Handy, algo frio e escolástico de início mas crescentemente caloroso e afirmativo no decorrer do concerto, nos faria lembrar um outro antigo companheiro de lides de Hancock – Wayne Shorter – também ele mestre nesta arte de desconstrução formal e estrutural. Como foi patente nas magistrais e impulsivas improvisações de Handy (nos saxofones soprano e tenor) no clássico de Hancock Maiden Voyage ou, sobretudo, na derrotante versão de I Got it Bad de Stevie Wonder.
Como elemento menos positivo do quarteto, Gene Jackson pertence, de forma visível (e audível), àquele número de bateristas cuja maturidade virá a aconselhar mais prudência na fogosidade com que ataca as peles dos tambores e faz faiscar os címbalos. Isto para que, à firme subtileza da percussão, se não substitua o esgotante pleonasmo rítmico. Em contrapartida, Kenny Davis mostrou-se seguro e inventivo no contrabaixo, sempre que Jackson e a reverberação sonora o deixaram ouvir-se com um mínimo de pureza e transparência.
A todas estas coisas boas teria a crítica assistido de esguelha, nas «doutorais laterais» que lhe estavam reservadas, se não se tivesse sorrateiramente transferido, em contraponto improvisado, para lugares mais frontais ao palco, olhos nos olhos com os próprios músicos, que é como o jazz deve ser encarado.
«Um Toque de Jazz» (actualização)

Por motivo de transmissão directa a partir do CCB (Dias da Música), a realizar pela Antena 2, a emissão prevista para Sábado, 19.04.08, de Um Toque de Jazz (Concerto pela ESMAE Big Band no Guimarães Jazz 2007) é anulada, sendo este concerto transmitido em data a anunciar oportunamente.
Por coincidência, é bem possível que, à hora habitual do programa (23:05 / 24:00), o concerto que esteja a ocorrer no CCB seja o do pianista português Bernardo Sassetti com o trio do acordenista Will Holshauser, o que de algum modo estaria de acordo com as expectativas do ouvinte.
A ouvir vamos.
Terça-feira, 15 de Abril de 2008
A Baronesa do Jazz

Nascida Kathleen Annie Pannonica Rothschild, a baronesa inglesa que ficou mais conhecida como Pannonica «Nica» de Koenigswarter pertenceu, como o apelido deixa supor, ao clã financeiro internacional dos Rothschild.
Como o visitante habitual deste sitio calculará, não é propriamente por esta última razão que agora me lembrei desta famosa e singular figura dos bastidores do jazz mas porque, ao vaguear pela Net, ali descobri um site dedicado a um documentário realizado pela BBC, e que se debruça sobre a vida da curiosa personagem.
Os amadores de jazz mais avisados sabem do papel que a baronesa desempenhou num determinado período do jazz, como admiradora e sobretudo suporte e guarida de alguns dos mais conhecidos criadores dos fervilhantes anos do bebop, como Parker, Monk e tantos outros.
E também sabem – ou depreenderão agora – que muitos temas que ficaram famosos no repertório dessa época lhe foram dedicados, como: Nica’ s Dream (Horace Silver), Pannonica (Thelonius Monk), Nica’ s Tempo (Gigi Gryce), Tonica (Kenny Dorham), Blues for Nica (Kenny Drew) ou Thelonica (Tommy Flanagan),
entre muitos outros.
Por isso aconselho vivamente uma prolongada viagem por este site intitulado The Jazz Baroness, no qual poderão descobrir excertos de entrevistas filmadas com personalidades que conheceram «Nica» de Koenigswarter ou que sobre ela discorrem, bem como inúmeros exemplos musicais e ligações a muitos outros recursos online.
Monk e «Nica» de Koenigswarter Uma viagem fascinante!